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Cresce busca por meditação e fitoterapia na pandemia, diz estudo da Fiocruz

Realizada em 2020, pesquisa com 12 mil brasileiros revela que 61,7% dos participantes adotaram alguma Prática Integrativa e Complementar (PIC) no 1º ano da pandemia. Se você fez uso de alguma Prática Integrativa e Complementar (PIC) — a exemplo do yoga e da fitoterapia — durante o primeiro ano da pandemia de Covid-19, não foi o único: 61,7% dos brasileiros entrevistados pela pesquisa PICCovid – Uso de Práticas Integrativas e Complementares no Contexto da Covid-19 em 2020 também o fizeram. Em um período marcado pelo isolamento social, 25% deles aderiram não somente a uma, mas a um conjunto de quatro ou mais modalidades.

Cresce busca por meditação e fitoterapia na pandemia, diz estudo da Fiocruz (Foto: cottonbro/Pexels)

Cresce busca por meditação e fitoterapia na pandemia, diz estudo da Fiocruz (Foto: cottonbro/Pexels)

Se você fez uso de alguma Prática Integrativa e Complementar (PIC) — a exemplo do yoga e da fitoterapia — durante o primeiro ano da pandemia de Covid-19, não foi o único: 61,7% dos brasileiros entrevistados pela pesquisa PICCovid – Uso de Práticas Integrativas e Complementares no Contexto da Covid-19 em 2020 também o fizeram. Em um período marcado pelo isolamento social, 25% deles aderiram não somente a uma, mas a um conjunto de quatro ou mais modalidades. O estudo, cujos resultados preliminares foram divulgados nesta quinta-feira (29), avaliou como as 29 PICs reconhecidas e ofertadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2006 — e outras práticas terapêuticas — foram utilizadas entre 12.136 adultos, que responderam a um inquérito online entre agosto e dezembro do ano passado. Considerado o levantamento mais abrangente sobre as PICs realizado no Brasil até o momento, a investigação foi uma parceria entre pesquisadores do Observatório Nacional de Saberes e Práticas Tradicionais, Integrativas e Complementares em Saúde (ObservaPICS) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) e da Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP/Unifase), no Rio de Janeiro. A pesquisa revela que o principal motivo responsável por atrair os brasileiros para a adoção de alguma prática integrativa em 2020 foi a busca pela promoção do próprio bem estar  (81%), enquanto 15% dos entrevistados utilizaram os recursos para ajudar no tratamento de alguma doença crônica durante o período — como ansiedade e dores na coluna. “Trata-se de uma proporção expressiva, acima do revelado em pesquisas anteriores e, sobretudo, indicativa da ampliação do autocuidado, que pode ter sido estimulado pelo isolamento social e busca de alternativas para aliviar o estresse“, avalia Cristiano Siqueira Boccolini, pesquisador do Laboratório de Informação em Saúde (LIS) do Icict e coordenador do estudo, em boletim. As plantas medicinais e a fitoterapia (28%) dividiram o pódio das práticas mais utilizadas ao longo do ano passado com a meditação (28%). O ranking dos 10 primeiros segue com o reiki (21%), a aromaterapia (16%), a homeopatia (14%), a terapia de florais (14%), o yoga (13%), a apiterapia (11%), a imposição de mãos (10%) e a medicina tradicional chinesa/acupuntura (7%).

Mas algumas diferenças foram observadas entre as cinco regiões do país: enquanto as plantas medicinais apareceram como a opção favorita no Norte (27%) e no Centro-Oeste (32%), os participantes do Nordeste e do Sudeste preferiram a meditação (24% e 34%, respectivamente). Entre os sulinos, o reiki saiu à frente com 33,7% de adesão. A maioria dos praticantes (41,6%) optou por fazer essas atividades sozinho — tais como apiterapia, meditação e yoga —, mas também houve quem recorresse à companhia de lives e vídeos na internet (28,4%) para práticas como a biodança e a musicoterapia. Outros 23,8% afirmaram ter praticado as PICs de forma presencial e 23,8% contaram ainda com o auxílio da telemedicina ou de orientação individual.

Perfil dos praticantes Embora cerca de 67% dos entrevistados tenham classificado sua saúde como excelente ou boa, 59% admitiram sentir ansiedade “quase sempre ou sempre” e outros 14,2% disseram ter problemas de sono durante a pandemia. Entre os que declararam lidar com a ansiedade “nunca ou poucas vezes”, 66% utilizaram PICs, enquanto cerca de 60% dos que afirmaram ter a condição “muitas vezes ou sempre” aderiram às práticas integrativas. A partir dos dados coletados, os pesquisadores também conseguiram traçar um perfil geral dos participantes que aderiram aos PICs em 2020: mais da metade eram mulheres (66%), a maior parte tinha 60 anos ou mais (69%), se autodeclarava amarela (mais de 80%), morava na região sudeste (73%), tinha nível superior ou mais (64%), não possuía rendimento (79%), apresentava renda familiar de mais de R$ 10 mil (73%) e contava com plano de saúde (68%).https://a4e0aec8fad3b16409f12630938f219c.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Infográfico mostra usuários das PICs por grupo socioeconômico, de acordo com estudo realizado entre agosto e dezembro de 2020 com 12.136 brasileiros (Foto: ObservaPICS)

Infográfico mostra usuários das PICs por grupo socioeconômico, de acordo com estudo realizado entre agosto e dezembro de 2020 com 12.136 brasileiros (Foto: ObservaPICS)

Embora os resultados indiquem que essas práticas podem estar se tornando mais acessíveis às pessoas sem rendimento, os pesquisadores consideram que é preciso investigar se o cenário tem relação com políticas públicas voltadas ao setor ou com a ampliação do mercado de PICs durante a pandemia. “O uso das práticas integrativas ainda é muito parecido com o que temos na literatura dos anos 1960 a 2000. Ainda observamos que há um privilégio de classe social, de gênero, de etnicidade e de ciclo de vida”, avaliou Cristiano Boccolini, assistente de pesquisa do Laboratório de Informação em Saúde (Lis/Icict), durante evento de apresentação dos resultados nesta quinta-feira (29). “Na pandemia, quem pôde se isolar e tinha esses recursos, conseguiu produzir condições melhores de cuidado, mas ainda não é um recurso para toda a população”, acrescentou o pesquisador.

Cada coisa no seu lugar Para Boccolini, o país ainda precisa progredir não só na expansão das PICs entre os diferentes grupos sociais, mas também nos diferentes usos dessas práticas que, muitas vezes, são tratadas como se fossem medicamentos ou procedimentos biomédicos — e não o são. No estudo, entre os participantes que relataram sintomas gripais ao longo do período, 42,2% utilizaram alguma PIC previamente conhecida. Entre os que afirmavam ser praticantes das terapias integrativas, ainda, 10,45% fizeram uso delas também para amenizar sintomas da Covid-19. “A gente precisa usar práticas integrativas para produzir saúde, com uma perspectiva de salutogênese e não patogênese”, sugere o epidemiologista.

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